Entre os anos de 570-490 a.C existiu um Filósofo, que, conforme a tradição, foi responsável por cunhar o termo “filosofia”; esse filósofo, tinha como nome Pitágoras, de origem na cidade de Samos, na Grécia.
Em certa ocasião, Pitágoras foi questionado por um príncipe, chamado Leonte, que lhe perguntou sobre a sua sabedoria, o qual respondeu: “sou apenas um filósofo”, ou seja, apenas um “amante da sabedoria”; a palavra filosofia é a junção de duas palavras gregas: philo, significando, de maneira sucinta, “amado”, e sophia, significando, sabedoria. PhiloSophia, amante da sabedoria.
Deste modo, começo este post, dizendo: é com muita cautela, que devemos elevarmo-nos à categoria de Sábio. Não é à toa que o título deste post é “A humildade do amante da sabedoria”.
Vamos tentar pincelar e descobrir o que é o sábio e o que é a sabedoria, para tentar chegar até à fonte da humildade, do amante da sabedoria.
O que é sabedoria?
Para começar, afinal, o que é sabedoria?
É difícil definir o que seja sabedoria, é um conceito muito denso, para ser definido com um termo ou em único conjunto de frases; mas, definitivamente, não é sinônimo de inteligência ou qi.
Para começar nossa investigação, podemos começar a pincelar atributos, que são percebidos naqueles que denominamos sábios.
Normalmente, aquele é definido como sábio, tem as virtudes como prudência, justiça, temperança, fortaleza, coragem, entre outras; e essas virtudes, não vem ao sábio, necessariamente, como um estudo formal, que é aprendido em instituições; e podemos afirmar, que, de algum modo ou de outro, ele é capaz de compor cada uma delas, na medida exata, no momento certo, na sua forma de agir no mundo; o amante da sabedoria, tem a pegada leve no mundo, ele não cria ruídos, ele é sutil. O sábio sabe ouvir, sabe quando falar, sabe quando calar, e tudo isso de maneira harmônica e na medida correta.
O fundamental
O amante da sabedoria, consegue, de algum modo, compreender, o que é realmente fundamental na vida. Você pode se perguntar: “o que é fundamental”? E eu lhe responder que, fundamental, é aquilo que permanece, sendo, o amor, a verdade, a justiça, o tempo que dedicamos para as pessoas, o contato, a sutileza, o olhar, a caridade, o doar de si.
Os bens materiais, a casa, o carro, o trabalho, o salário, o cargo, a profissão, tudo isso, tem seu lugar na vida, mas é efêmero e passa rápido demais, some com o vento; considerar isso como finalidade da vida e fundamental, é não ver, com o Olho dos olhos, aquilo que é fundamental.
Você pode se perguntar, afinal, o que é ver com o “Olho dos olhos”? Lhe respondo, com poucas palavras, mas de maneira muito densa, que ver com o Olho dos olhos, é ver, com o Olho do Espírito, que não é um sentido físico; é um sentido de uma parte imaterial nossa, que é, objetivamente, aquilo que somos de fato.
Mas então, você é cético, não acredita em “espírito imaterial” interno e crê que a consciência é subproduto do cérebro; e eu lhe digo: Você pode compreender o espírito, como a sua consciência, subproduto do cérebro, que através dos sentidos, dá sentido para aquilo que vê, e que, sabedoria, é dar o devido peso exato, para cada uma das coisas, que são importantes; desse modo, a natureza, com a finalidade de sobrevivência, lhe possibilitou um pouquinho mais de harmonia interna e com os demais.
Com esse adendo, continuando a nossa busca, podemos nos perguntar: Afinal, de onde vem a sabedoria do sábio? Eu lhe respondo: “isso é um mistério”; não quero aqui, mistificar muito, com a palavra “mistério”, mas, de fato, é um mistério.
Quem confere a sabedoria para o sábio? Olhando para as tradições de sabedoria, culturas e religiões, podemos catalogar algumas respostas:
- A natureza;
- Deus;
- A aleatoriedade;
- A evolução, que pretendendo mais sobrevivência, confere possibilidade de harmonia na existência;
- A sorte;
- O destino;
- A própria pessoa, que vai construindo a sua sabedoria em longo trilhar milenar, de múltiplas vidas.
Eu, com meu pequeno conhecimento sobre a Vida, tenho a convicção profunda, que essa sabedoria, vem conosco, já antes de renascermos; e aqui eu defendo, de fato, que existíamos antes do nascimento, e que a nossa forma de agir no mundo e a nossa sabedoria, vem de um longo trilhar que se perde na contagem da história. Afinal, já existíamos antes desse corpo, e a nossa sabedoria, é reflexo de quem somos de fato.
O Olho dos olhos
Voltando ao tema do Olho dos olhos…. o que há, na realidade, que o amante da sabedoria vislumbra e captura, que o torna mais sábio? Eu lhe respondo: A própria realidade.
Afinal, o que há na realidade, de tão interessante, que impacta o amante da sabedoria e o torna mais sábio? Eu lhe respondo: A inesgotabilidade da realidade.
Afinal, o que é inesgotabilidade? Eu lhe respondo: É aquilo que não tem fim, que não se esgota.
É essa inesgotabilidade da realidade, que é a fonte de humildade do amante da sabedoria, que com o Olho dos olhos, olha para a realidade, se espanta, e vê, que é inesgotável, vê, que a vida é inesgotável e não tem fim, para onde ele olhar, ele verá harmonia, grandeza, sentido, amor, verdade, justiça; toda a realidade manifesta esses atributos, e ele percebe, que todo o ente, que está posto na realidade, manifesta em algum grau, esses atributos, na sua essência. E você pode se perguntar, como ele vê, diante de tanto sofrimento da humanidade, tudo isso? E eu lhe respondo: com o Olho dos Olhos, ele vê!
O amante da sabedoria, em um sentido mais platônico, vê, com o Olho dos olhos, o Ser, e compreende, que o Ser, é o grande sustentáculo da Vida, e isso o espanta, o espanta profundamente, porque vê a imensidão disso tudo, vê a eternidade, vê a imortalidade, vê a cadeia de causalidade, vê a cadeia gradual em que o Ser se manifesta, vê as coisas como elas São e não a aparência das coisas.
Vê, que a sua consciência, é o Olho do Ser, e isso, o espanta profundamente; eu me espanto, você não se espanta?
O amante da sabedoria, se torna humilde, porque compreende, que ao mesmo tempo que encerra dentro de si, todo o Cosmo (microcosmo), comparado com tudo aquilo que percebe no Macrocosmo, entende que de nada sabe, e que quanto mais busca, mais o seu conhecimento se torna pequeno, e compreende que tudo é inesgotável, e que nunca saberá de tudo.
É um paradoxo, porque ao mesmo tempo que de alguma forma, encerramos dentro de nós, todas as coisas, a inteligibilidade de toda as coias é gradual e inesgotável.
O amantante da sabedoria se coloca em uma posição de temor diante disso tudo, estremece diante disso tudo. Mas ama, ama profundamente, tudo isso, porque percebe que ele é Uno com isso tudo; ama profundamente, porque é capaz de perceber, que ele É todas as coisas, mesmo preservando de algum modo, sua individualidade.
Como podemos vislumbrar isso de fato? Saia do seu corpo físico, através do seu corpo mental, e você verá, de maneira objetiva, o que é tudo isso. Para esclarecer, a saída do corpo físico através do corpo mental, não é uma mera imaginação, mas literalmente, uma descoincidência entre os corpos e a saída com um deles, o mental, que sai, portando a consciência.
Reiterando, não possuímos apenas o corpo físico, mas 4 corpos, sendo eles, além do corpo físico, o corpo energético, o psicossoma (corpo astral) e o corpo mental.
A convicção, para o amante da sabedoria, é uma reminiscência, uma lembrança, profunda, que ele já sabia, antes de renascer; então, de certo modo, não é necessário ter uma experiência para fora do corpo físico através do corpo mental, para ter uma convicção profunda disso tudo. É só olhar para a realidade, que ela lhe lembrará constantemente disso tudo; ja está com você, a posse disse tudo, ja está com você, sempre esteve com você!
Isso tudo, torna o amante da sabedoria, mero amante da sabedoria; e o torna humilde.
O Cético
Você, leitor, pode, de algum modo descartar tudo isso que eu disse acima, porque é cético e materialista, e aqui, materialista, entende-se, não em um sentido pejorativo e negativo, como aquele que é apegado às posses e ao dinheiro; o sentido que dou ao termo, é aquele, que não tem convicção e nem confere credibilidade à afirmativa de que existe algo além do mundo material.
Você pode me me dizer: O que é esse tal Ser? Mundo imaterial e inesgotável? Temos outros corpos além do corpo físico? Isso é muita viagem.
Eu lhe respondo: A gradação em que o Ser se manifesta, é tão impressionante, que essa inesgotabilidade, reflete-se no mundo material.
Vamos investigar juntos, essa inesgotabilidade refletida no mundo material, que pode ser fonte de humildade daquele que se põe de maneira cética no mundo.
Olhe, o tamanho do Sol em relação ao planeta Terra; olhe, o que a ciência moderna descobriu, perto do que há para ser descoberto; olhe, para o tamanho do cosmos físico; olhe, para a imensidão das distâncias entre as galáxias; olhe para nós, que não sabemos o que somos e de onde vivemos; olhe para o nosso futuro, enquanto humanidade, que não sabemos para onde vamos; olhe para a imensidão em que a Vida se manifesta na natureza, nos animais, nos oceanos…
Tudo isso, todo esse vislumbre, será fonte de profundo amor e humildade, do sábio.
Amante da sabedoria, não é necessariamente, aquele que vislumbrou outras instâncias da realidade, em um sentido platônico, ou aquele que compreendeu que a vida não se resume a apenas esta, ou aquele que é dotado de um profundo conhecimento filosófico.
Amante da sabedoria, é aquele, que valoriza o que importa.
A minha investigação, é carregada das minha convicções, a mera convicção de alguém que assumiu não saber de nada; de alguém que olhou para tudo, e se sentiu pequeno; de alguém que viu que há muito para aprender; de alguém que assumiu que a realidade é inesgotável.
Eu posso, com muita humildade, me definir como um amante da sabedoria, e eu desonraria esse “título”, se pretendesse dar a palavra final acerca de tudo, acerca do que é sabedoria, do que é o sábio, do que é humildade.
Na minha pequenez, eu conduzi uma investigação, uma investigação carregada com minhas convicções.
E não pense, que, estou livre de assoberbar-me do meu conhecimento; constantemente policio-me, e, investigo, dentro de mim, tudo que concorre para me tirar deste posto, de mero amante da sabedoria.
Posso afirmar, que vislumbrei, faíscas, daquilo que considero Verdade; e essa faísca me espantou, colocando-me no meu devido lugar.
Diante do amante da sabedoria, calo-me para ouvir, pois aquilo que é dito, é a sua síntese, é a expressão daquilo que vislumbrou, podendo ter percebido aquilo que não percebi; e desse modo, o outro, pode me auxiliar na busca.
Nunca menospreze ninguém, quem você menos espera, pode ser portador de um profundo conhecimento e sabedoria; de um entendimento sobre a vida que pode colaborar e muito, com a sua forma de perceber as coisas.
Trazendo para um campo mais pragmático e palpável, posso dar exemplos, da condução da minha investigação no âmbito profissional da minha vida, daquilo que pode ser fonte de humildade, de qualquer um, e que foi, grande fonte da minha busca pela humildade.
Sou desenvolvedor de softwares, e, dentro da empresa que eu trabalho, chegou um novo CTO, ou seja, um diretor de tecnologia. Meu conhecimento, dentro da área de programação, deu-se de maneira autodidata, sempre tive facilidade em aprender programação, desde os meus 9 anos de idade.
No dia a dia, eu percebi, em contato com o conhecimento desse novo diretor, que aquilo que eu sabia, com todo meu assoberbamento, do meu conhecimento, não eram nada, absolutamente nada. Nesse processo, eu compreendi que eu de nada sabia, baixei a minha bola, e percebi, que o universo da computação, é, guardado as suas proporções, inesgotável; eu percebi, que tudo aquilo que eu sabia, não era nada.. que eu estava apenas começando a trilhar um grande caminho dentro da computação.
Eu vislumbrei, ali, o que era computação de verdade, e isso, foi um grande choque, afinal, “eu programava” desde os 9 anos de idade; não que eu fosse orgulhoso no sentido de esbanjar isso perante os demais, ou utilizasse isso de forma a tirar vantagem dos demais, sempre fui reservado quanto a isso.. a ideia aqui, é expor, a minha autoconcepção, de ver a si mesmo, da forma como eu me via, no mundo da programação.
Antes desse choque, eu já não estudava computação com tanto afinco, afinal, o que eu sabia, ja “era suficiente”. Se não fosse essa fonte de humildade, eu não romperia a bolha do conhecimento, eu não buscaria mais, eu estaria satisfeito com aquilo que sabia, eu não iria crescer, eu iria estagnar no meu conhecimento acerca de computação.
Neste momento, eu recebi uma grande lição da vida, eu percebi que o conhecimento das coisas é inesgotável, e isso, foi grande fonte de humildade para mim!
O orgulhoso
Afinal, a vida é uma grande mestra, e é didática. Aquele que é arrogante e orgulhoso, acaba sendo engolido, de alguma forma, pela própria realidade; tudo, em algum momento, começa a desmoronar, a vida, a família, o trabalho, a relação com os demais; tudo, começa a refletir, de algum modo, o estado espírito interno da pessoa.
Ahh, mas você pode se perguntar, o que é isso e o por que as coisas se comportam assim?
E eu lhe respondo, é o Carma… porém, com muita cautela, vamos definir o que é Carma, pois muito vulgarizou-se acerca deste profundo conceito.
Carma, é a própria Vida, que visando a harmonia e o crescimento, começa a arranjar e organizar as coisas, de algum modo, para lhe prover lições, perdas, dor, sofrimento, para que, no fim, você aprenda, evolua e cresça! É o famoso plantar e colher das tradições ocidentais.
O Carma, não é uma força cega e sem propósito.. é a própria Vida com a sua didática; é o próprio ato de evoluir, do Cosmos.
A Vida é uma grande lição, a Vida é uma grande didática, a Vida é um grande mestre; em um sentido de finalidade, tudo, absolutamente tudo, que lhe ocorre, tem sentido e um propósito, nada é à toa.
É impressionante a densidade do conceito Carma e as suas implicações.
Compreendo que olhar para todas as tradições de sabedoria, todas as religiões, todas as culturas, com o Olho dos olhos, é ver, de algum modo, essas verdades fundamentais da Vida, serem expressas de modos distintos; e repetindo, essas verdades fundamentais, estão lá, expressas, de algum modo ou de outro, de formas distintas, em todas as tradições, e isso, eu não menosprezo.
O orgulhoso, experimenta a queda, e é engolido pelo Cosmos, para depois, se recompor, e trilhar o caminho de volta, esse é o sentido…
o orgulhoso, é engolido pelo fogo, fogo da destruição, da dor e do sofrimento, para no fim, se recompor e aprender e trilhar o caminho de volta, esse é o sentido…
E isso, se manifesta na vida de todos, o erro, é para aprendizado, e a dor, é para aprendizado; tudo irá se repetir, inúmeras vezes, até que aprendamos.
Veja com o Olho dos olhos. Seja Humilde.
Conclusão
No fim, de tudo que foi dito, a conclusão é que, a própria Realidade é fonte de humildade do amante da sabedoria.
- O amante da sabedoria, se espanta com o tamanho do Cosmos;
- o amante da sabedoria se espanta com a imortalidade;
- o amante da sabedoria se espanta com a eternidade;
- o amante da sabedoria se espanta com a pequenez daquilo que sabe;
- o amante da sabedoria se espanta com tamanha harmonia;
- o amante da sabedoria assume que apenas vislumbrou faíscas da verdade.
O amante da sabedoria, se espantou, e por isso, é humilde.
Referências
Para que o leitor aprofunde em conceitos apresentados neste post, e, leia, com o Olho dos Olhos, segue as referências:
- Platão. A república. Lafonte. São Paulo
- Platão. Fedro. Edipro. São Paulo: 2021
- Platão. Eutífron. EdiPro. São Paulo: 2021
- Plotino. Tratado das Enéadas. Polar. 2. São Paulo: 2021
- Vieira, Waldo. Projeções da consciência, diário de experiências fora do corpo físico. Editares, 10. Foz do Iguaçu, PR - Brasil: 2018. (60 - Pag 233 - A consciência Livre)
- Blavatsky, Helena. A Voz do Silêncio. Pensamento. São Paulo: 2022
- Blavatsky, Helena. A doutrina secreta. Vol1,2,3,4,5. Pensamento.
- Lúcia Helena Galvão. As esferas da consciência. Vídeo no youtube: https://www.youtube.com/watch?v=fZgkG8qQkhU